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10 de julho de 2011

Por você, faria isso mil vezes...

"Comecei então a gritar, e tudo era cor e som, tudo estava cheio de vida e era maravilhoso. Abracei Hassan com o braço que estava livre e começamos a pular, ambos rindo, ambos chorando.
—Você ganhou, Amir agha! Você ganhou!
—Nós ganhamos! Nós ganhamos! — foi tudo o que consegui dizer. Isso não estava acontecendo. Logo, logo estaria piscando os olhos e despertando desse sonho maravilhoso; saindo da cama, descendo até a cozinha para tomar o meu café da manhã sem ter ninguém com quem conversar a não ser Hassan. Me aprontar. Ficar esperando por baba. Desistir. De volta à minha velha vida. Foi então que o vi no telhado lá de casa. Estava de pé na mureta, agitando ambos os braços. Gritando e aplaudindo. E aquele ali foi o único momento importante dos meus doze anos de vida: ver baba no telhado, finalmente orgulhoso de mim.
Mas, agora, ele estava fazendo alguma coisa, fazendo um gesto com as mãos como quem indica urgência. Então, compreendi.
— Hassan, nós...
—Eu sei — disse ele se desvencilhando do meu abraço. — Inshallah, ,vamos festejar mais tarde. Agora, vou apanhar aquela pipa azul para você — acrescentou. Largou o carretel e saiu correndo, com a borda do chapan verde arrastando na neve atrás de si.
—Hassan! — gritei eu. — Volte com ela!
Ele já estava dobrando a esquina, com as botas de borracha levantando neve do chão. Parou e se virou. Pôs as mãos em concha junto da boca.
Por você, faria isso mil vezes! — disse ele. E deu aquele sorriso de Hassan, desaparecendo então na esquina. Só voltei a vê-lo sorrir assim tão descontraído vinte e seis anos mais tarde, olhando uma foto Polaroid desbotada..."

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