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2 de julho de 2011

É um teste ?

“ — O que é que estamos fazendo aqui? — indaguei ofegante, com o estômago se revirando de enjôo.
— Sente comigo, Amir agha — disse ele sorrindo.
Na verdade, me deixei cair ao seu lado e me estiquei em um pedacinho de chão coberto de neve, quase sem fôlego.
— Estamos perdendo tempo. Não viu que a pipa está indo para o outro lado?
Hassan trincou uma amora.
— Está vindo para cá — respondeu.
Eu mal podia respirar, e ele nem parecia cansado.
— Como pode saber? — perguntei.
— Eu sei.
— Como?
Ele se virou para mim. Algumas gotinhas de suor escorriam de sua cabeça raspada.
— Já menti para você, Amir agha? De repente, resolvi implicar com ele. — Sei lá
— respondi. — Já?
— Mil vezes comer cocô! — exclamou ele com ar indignado.
— De verdade? Você faria isso?
Ele me lançou um olhar desconcertado.
— Faria o quê?
— Comer cocô, se eu mandasse — respondi. Sabia que estava sendo cruel, como naquelas vezes em que debochava dele quando não conhecia uma palavra qualquer. Mas havia algo de fascinante, embora de um jeito doentio, em implicar com
Hassan. Era um pouco como brincar de torturar insetos. Só que, agora, ele era a formiga e eu é que estava segurando a lupa.
Ele ficou me encarando por um bom momento. Estávamos sentados ali, dois meninos debaixo de uma cerejeira, e, de repente, nos olhávamos, olhávamos de verdade. Foi então que aconteceu de novo: o rosto de Hassan mudou. Talvez não tenha mudado, não para valer, mas, de repente, tive a sensação de estar olhando para dois rostos: um deles, o que eu conhecia, aquele que era a minha lembrança mais remota; o outro, o segundo rosto, era o que estava escondido logo abaixo da superfície, já tinha visto isso acontecer antes e aquilo sempre me deixava um pouco atordoado. Esse outro rosto só aparecia por uma fração de segundo, mas isso era o bastante para me deixar com a perturbadora sensação de que talvez já o tivesse visto em algum lugar.
Então, Hassan piscava e voltava a ser ele mesmo. Simplesmente Hassan.
— Se você mandasse, faria, sim — disse ele afinal, olhando bem para o meu rosto. Baixei os olhos. Foi aí que descobri como é difícil olhar diretamente nos olhos das pessoas como Hassan, essas pessoas que dizem sinceramente o que pensam. —
Mas fico imaginando... — acrescentou ele. — Será que algum dia você me mandaria fazer uma coisa dessas, Amir agha?
E, com isso, Hassan me propôs um pequeno teste. Se eu ia provocá-lo, desafiando a sua lealdade, ele ia fazer o mesmo, pondo à prova a minha integridade.
Adoraria não ter começado aquela conversa. Dei um sorriso forçado.”


E eu jamais escreveria ou diria algo á você, que você não pudesse me lembrar depois de ter escrito/dito, portanto, se eu te disse que você pode confiar em mim.... VOCÊ PODE CONFIAR EM MIM!

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